A Bela Adormecida, Branca de Neve e Cinderela. Princesas Disney sempre foram um ideal de beleza e sonhos para as pequenas meninas que aprendem que o correto é esperar pelo Príncipe Encantando e assim serem felizes para sempre. Já nos quadrinhos Marvel, personagens como a Mulher Maravilha, Jean Grey ou Mulher Invisível, representam a força e a coragem de mulheres que lutam a favor da nação.
Mas, há um personagem feminino contraditório aos personagens citadas acima nos quadrinhos brasileiros, uma anti-heroína, botequeira, hedonista, alcoólatra e ninfomaníaca. Rê Bordosa, a junkie dos anos 80 criada por Angeli.
Desenhando quadrinhos para a Folha de São Paulo, Angeli iniciou uma seção diária com a tira Chiclete com Banana, no qual lançou diversos personagens, além da Rê Bordosa, como: Os Skrotinhos, Bob Cuspe e Wood & Stock, o sucesso foi tanto que Chiclete com Banana transformou-se em uma revista de quadrinhos independentes.
A primeira aparição da Rê Porra Louca foi em 04 de abril de 1984, dentro da sua famosa banheira – onde apareceria diversas vezes, recebendo o apelido de Mulher-Esponja -, após um belo porre. Porém, sua vida durou pouco, e não foi por causa das bebidas, não. A personagem foi assassinada pelo próprio autor em 1987. Um dos motivos: seu sucesso era tanto que ofuscava o brilho dos outros personagens.
Pois, naquele meio oitentista, onde se via punks de um lado e a galera disco de outro, o boom das revistas em quadrinhos no movimento undergroud, transformou Rê Bordosa em um ícone feminino de sátira à liberação social da década. Na faixa entre os 30 e 40 anos, Rê vai contra todas as características femininas criada pelo mundo Marvel e histórias encantadas da Disney, ela é politicamente incorreta. Uma personagem autêntica, com atitudes masculinas e rock'n'roll. A começar pelo seu nome, segundo o dicionário Aurélio, “Rebordosa” significa: situação desagradável, doença grave, alvoroço, rebuliço. Só queria saber de bebidas, cigarros e sexo. Insaciável, só se preocupava com os prazeres da vida, volúpia e claro, muita VODKA. Logo, vemos que essa personagem trata-se de um mal para a sociedade, uma representante daquilo que não deve ser feito.
Em 1986 Rê Bordosa ganhou o prêmio de Pin-Up, porém, seu corpo com gorduras localizadas, seios flácidos, celulites nas pernas e estrias na bunda, reforçavam que mais uma vez que ela estava indo contra o ideal tradicional do que é ser Pin-Up, já que ela não ligava para estética, academia ou beleza. Vivendo numa era pós-feminista, Rê só queria saber de curtir a vida mundana com muita bebida e sexo casual. Além de grande aversão ao casamento, filhos e à vida doméstica.
Fazendo a alegria dos fãs por apenas 4 anos e deixando-os órfãos por 19, a personagem reaparece em 2006 no longa Wood & Stock: sexo, orégano e rock’n’roll, dirigido por Otto Guerra. O que marcou sua presença no filme, foi à dublagem feita por Rita Lee, e confesso que não haveria melhor representação.
E para satisfazer ainda mais os leitores saudosistas dessa mulher que morreu assim, sem mais nem menos, foi realizado um curta metragem em 2008, uma animação em stop-motion com 16 minutos a respeito de sua morte: “Dôssie Rê Bordosa”.
E as homenagens para não param por aí, com uma biografia não autorizada de Rê Bordosa, Silvia Machete canta “Toda Bêbada Canta”.
Essa é Rê Bordosa, uma anti-heroína dos quadrinhos brasileiros que marcou e representou uma geração de maneira lúdica e indecente. Uma mulher imoral perante os olhos da sociedade, mas digna de uma vida sem hipocrisia, ela reconhece que não é a mulher perfeita, mas é aquilo que ela deseja ser.
"Não nasci para ser a cura, nasci para ser a doença."
Rê Bordosa
bateu saudades de ler essas tirinhas.
ResponderExcluirAhah é sempre bom. Leitura rápida e divertida rs.
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