Entrevista com a Dançarina Burlesca Clóris Fontainebleau

14:27:00

A dança burlesca é uma arte performática descendente da Comédia dell'arte que envolve teatro, circo, ballet, sátira e muita sensualidade, mas nada que seja vulgar. Apesar de tirar algumas peças de roupa, a sacada da dança é não deixar tudo amostra e sim um "gostinho de quero mais".

Porém, ainda há muito preconceito com quem pratica essa dança, já que as pessoas confundem muito com striptease, que veio do burlesco, mas que hoje é muito desvalorizado.

Mas, nada melhor do que uma especialista para falar mais sobre esse assunto. Atendendo a pedidos, hoje a entrevistada é a Clóris Fontainebleau. A Clóris é dançarina burlesca há praticamente 2 anos e vem ganhando bastante reconhecimento através de sua arte.

Vamos ver sua entrevista e o que a Clóris tem a nos dizer sobre a dança burlesca.

Fotógrafo Douglas Pupo
Clóris Fontainebleau | Foto - Douglas Pupo

Quando iniciou seu gosto pela dança burlesca e onde você aprendeu a dançar?
Clóris Fontainebleau: Tudo começou quando eu assisti a um filme musical que contava a história de como Gipsy Rose Lee iniciou sua carreira burlesca. Desde então passei a me interessar mais e mais sobre o tema e em outubro de 2010 comecei a fazer o curso de Burlesque com a Lady Burly na Escola Burlesca de São Paulo.

Algumas pessoas consideram a dança um hobbie, mas você levou essa paixão para a profissão. Como é ser uma dançarina burlesca profissional?
Clóris: Pra mim é uma grande diversão! Eu realmente me empolgo nesse trabalho, mergulho e abraço novos desafios sem medo nenhum porque no final, ele sempre rende ótimos momentos, ótimas histórias, conheço várias pessoas e faço novos amigos. Para isso é necessário muito tempo e dedicação, além de ter que abrir mão de muitas coisas, mas no final tudo é compensado. 

Fotógrafo Douglas Pupo
Clóris Fontainebleau | Foto - Douglas Pupo

Atualmente, você integra a Cia Revaudeville, que apresenta mensalmente o espetáculo Revaudeville Teatro Cabaret Burlesco, o primeiro projeto brasileiro à levar à dança burlesca para o teatro. Como você se sente, fazendo parte de um grupo que está trazendo de volta uma arte que existe há séculos, mas que por muito tempo foi deixada de lado?
Clóris: Fazer parte do Revaudeville é algo que me enche de orgulho. Somos pioneiros na idéia de criar um Vaudeville Burlesco no Brasil e colocá-la em prática. Começamos só com a cara e a coragem de montar um espetáculo inédito no Brasil. Nunca soubemos e nem sabemos onde tudo isso vai dar, mas a garra de seguir adiante dentro de um projeto inovador é nossa força motriz. 

Agora, dia 2 de dezembro, apresentaremos a última edição de 2012 e nesse percurso de um ano em cartaz já foi possível ver o quanto melhoramos desde a primeira edição em fevereiro de 2012. Em um ano crescemos muito, com a qualidade artística e como grupo cênico. A cada edição o grupo se torna mais coeso e mais motivado a fazer o Revaudeville crescer mais e mais. E cada novo integrante que entra é automaticamente contaminado por essa energia que corre no grupo. Enfim, tem sido imensamente gratificante fazer parte da equipe Revaudeville e estou certa de que iremos muito longe com esse projeto!


Esse é um estilo de dança que apesar de existir há anos, não é tão conhecido, além de ser muito confundido com striptease. Por conta dessa falta de conhecimento, você sofreu ou sofre algum preconceito por ser dançarina burlesca?
Clóris: Sim, o preconceito existe e vai existir por algum tempo enquanto a cultura burlesca ainda permanecer como um enigma para a maioria. Mas toda novidade vem acompanhada de preconceito, não há como mudar isso. No Brasil, o Burlesque é algo totalmente novo, não há como esperar ou obrigar que as pessoas o conheçam de imediato, vai levar um tempo para que ele deixe de ser algo desconhecido. O Burlesque ainda é muito confundido com o striptease, muita gente coloca tudo junto no mesmo balaio, mas isso com o tempo será sanado. Os artistas burlescos vem se empenhando em divulgar cada vez mais não somente o trabalho individual de cada um, como também o que é a tal cultura burlesca.
Fotografia Douglas Pupo
Clóris Fontainebleau | Foto - Douglas Pupo
Atualmente Dita Von Teese é considerada a rainha da dança burlesca e grande responsável por trazer o burlesco de volta a mídia e glamourizá-lo. Qual a sua opinião em relação a isso?
Clóris: Realmente Dita Von Teese teve e tem um papel muito importante no revival burlesco. Sem ela eu creio que muito do que tem acontecido dentro do universo burlesco não seria possível. Ok, em muitos lugares do mundo o burlesque nunca deixou de existir desde sua origem, mas com a aparição de Dita Von Teese o burlesque tomou um novo fôlego, isso é inegável e ela merece crédito por isso.

O burlesco está voltando com força total e começou a despontar no cenário nacional. O que você acha dessa popularização do estilo?
Clóris: Eu vejo como um fato muito bom para todos aqueles que trabalham direta ou indiretamente com o burlesco. Isso ajuda bastante na propagação do burlesque. Lógico, toda popularização também vem acompanhada de coisas negativas como, por exemplo, aparição do amadorismo irresponsável, experimentações nada planejadas, mas não há como evitar isso, há que aprender viver com o lado bom e mau da popularização.
Clóris Fontainebleau | Foto - Douglas Pupo
Qual a sua referência e inspiração para a sua dança burlesca?
Clóris: Das estrangeiras tenho como fonte Dita Von TeeseMichelle L’amourDirty MartiniMimi Lemieux entre outras. Há muita gente fazendo trabalhos bárbaros em vários cantos do planeta. Em território nacional minhas referências são Lady Burly e Nubia Del Fuego.

Quais os acessórios essências que não podem faltar em uma dança burlesca e qual a melhor música para envolver o espetáculo?
Clóris: Eu diria que são os pasties (com ou sem pingentes) e uma bela calcinha. E como trilha musical, um bom jazz costuma render uma boa apresentação. 
Clóris Fontainebleau  | Foto - Douglas Pupo

Não importa o porte físico, qualquer mulher pode dançar burlesco, o importante é se sentir livre. É assim que você ao dançar? Acredita que a dança está te libertando e que esse estilo faz a mulher valorizar seu próprio corpo?
Clóris: O burlesque é uma arte performática bastante democrática quanto aos requisitos físicos. Não é necessário ser magra, gorda, alta ou baixa, você precisa estampar sem medo ou vergonha toda sua feminilidade e sensualidade. O burlesque tem uma faceta libertadora muito interessante, assim como a dança também. Com a dança você ganha consciência corporal e com o burlesque você aprende ou reaprender a ser feminina e sensual. São enriquecedores! Não faz você valorizar somente seu corpo, vai mais além, faz você amar-se como mulher em toda sua essência.

Para finalizar, qual sua dica para as mulheres que querem praticar a dança burlesca, mas ainda têm vergonha?
Clóris: Por vergonha nós mulheres nos privamos de muitas coisas boas, não é mesmo? Parece estranho, mas desde  muito cedo somos condicionadas a ter vergonha de nossa condição feminina. Vivemos numa época onde ser feminina, ser mulher em seu conceito mais amplo é quase um crime. Os padrões de beleza são impostos, o sensual é banalizado a todo instante... enfim a mulher se torna um produto saído de uma forma, fabricada em série. E para piorar ainda mais, o corpo acaba se tornando inclusive ferramenta de protesto. Não creio que algo tão belo, tão bem pensado como o corpo e mente de uma mulher deva viver  condenado aos ditames paranóicos de uma sociedade. Como ser humano a mulher é muito maior que tudo isso, ela deve se permitir a momentos de libertação total, de ser o que desejar ser sem contaminar-se pelas “regras do mercado”, sem ter vergonha de seu corpo ou de suas atitudes durante uma performance burlesca seja lá onde for que ela a apresente. Libertar-se, desafiar-se são exercícios ótimos não só para auto-estima como para qualquer outro aspecto da vida.

Clóris Fontainebleau | Foto Juja Kehl

Fotografia Juja Kehl
Clóris Fontainebleau | Foto Juja Kehl

Fotografia Juja Kehl
Clóris Fontainebleau | Foto Juja Kehl
Além da útilma apresentação com a Cia Revaudeville no dia 2 de dezembro, no próximo dia 28 de outubro a Clóris irá se apresentar na 2º edição do Rock'n'Hell Rock-a-Billy Open Party no Club House dos Hells Angels MC Nomads Brazil festa rockabilly que já falamos aqui.  


Os créditos das imagens cedidas pela Clóris, vão para os fotógrafos Douglas Pupo e para o nosso parceiro Juja Kehl.

Quem quiser conhecer mais a Clóris e seu trabalho, pode curtir a sua página no Facebook aqui.

Gostaria de agradecer a Clóris pela ótima entrevista cedida ao blog. Parabenizá-la pelo seu profissionalismo e desejá-la muito sucesso e respeito com o seu trabalho. 

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2 comentários

  1. Adorei a entrevista, amo a arte, dança então?
    que belo trabalho parabéns pela matéria..bjus.. Mari

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    1. Obrigada Mari, realmente a Clóris é uma ótima profissional!

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